Neste episódio a Fastest Brasil representada por sua Diretora de Marketing, e João Pentagna, sócio-fundador da Atingir+, entrevistaram Ana Lucia Varotto, Psicóloga especializada em Gestão de Pessoas e Consultora em RH. O intuito deste episódio foi explicar sob o ponto de vista da neurociência como os diferentes cronotipos influenciam na produtividade do trabalho de cada pessoa e como o mercado brasileiro entende isto na aplicação do dia a dia das empresas.
Cibele abriu o episódio fazendo uma explicação que cronotipo é a sincronização do que a ciência chama de ciclos circadianos, que é um ciclo fisiológico que todos temos e que dura aproximadamente 24 horas. A melatonina é a química responsável por administrar este ciclo e o augr do seu pico de produção ocorre a cada 24 horas, quando o nosso relógio biológico se reinicia e se inicia um novo ciclo.
São 3 os principais cronotipos:
– o matutino, em que o pico de produção de melatonina ocorre ants da meia noite. São pessoas que precisam dormir mais cedo e são muito mais ativas e sua cognição é mais desenvolvida nas primeiras horas do dia. De forma geral estas pessoas tendem a dormir entre 22h e 06h e segundo alguns estudos cerca de 25% da população é deste cronotipo;
– o cronotipo intermediário que é representando por cerca de metade da população e tem o seu pico de melatonina às 03h da manhã e que dormem entre meia noite e 08h da manhã;
– o cronotipo vespertino que abrange cerca de 25% da população e onde o pico de melatonina acontece bem mais tarde, por volta de 06h da manhã. Estas são as pessoas que mais sofrem com o horário comercial imposto pela nossa lei trabalhista que foi feita na Era Vargas. São as pessoas que rendem melhor à noite e que o horário de sono ideal seria entre 03h da manhã e 11h.
Os dois primeiros cronotipos em geral não tem problema algum com o horário comercial de 08h às 18h mas no caso da Cibele, que é do cronotipo vespertino ela reserva o horário da manhã para atividades mais rotineiras e as que demandam uma performance cognitiva maior ela faz à noite.
Ela afirma que o ideal seria que as empresas, dependendo do cargo e da natureza do trabalho, propusessem um horário mais flexível em que os colaboradores pudessem ser mais eficientes e produtivos .
Ana, que é claramente uma matutina não conhecia até pouco tempo atrás o conceito de cronotipo, apesar de trabalhar com RH há muitos anos, mas confessa que já reparava que as pessoas tem uma individualidade em relação ao horário de maior performance. No caso dela, como ela é matutina, ela evita deixar os trabalhos mais complexos para à noite pois sabe que será difícil executá-los com qualidade.
Ela concorda com a Cibele que o cenário ideal seria propor horários flexíveis e afirma que os gestores devem ter esta percepção e dentro dos limites impostos pela lei brasileira saber utilizar deste conhecimento para promover uma maior performance. Entretanto ela afirma que isto hoje não acontece na prática e que a curto prazo não enxerga que este tipo de flexibilização vá acontecer na prática da maior parte das organizações.
Falando de forma específica do dia a dia de RH das empresas ela afirma que qualquer flexibilização em relação à CLT é bem difícil de ser executada e isto não acontece somente pela questão jurídica mas também de um despreparo dos gestores e da cultura enraizada até nos funcionários.
Ela traz uma realidade de que se hoje ela perguntar sobre a performance de um funcionário para um gestor geralmente a resposta vai estar mais ligada ao absenteísmo e ao cumprimento de horários do que a performance em relação às entregas.
O mesmo vem dos funcionários, que geralmente tem resistência de serem cobrados em relação à metas e se apegam a pensamentos retrógrados e vinculados à CLT.
Vale observar aqui que ela está se referindo a maioria dos gestores e funcionários e não os mais capacitados, que são uma minoria.
João complementa dizendo que devido à questão histórica de como as empresas foram organizadas, seguindo a tradição militar de hierarquia, e isto somado ao fato de que a CLT foi criada há muitos anos atrás, para uma realidade de fábrica, esta cultura de horário, de controle e comando é muito difícil de ser quebrada.
Hoje as modernas práticas de gestão estão muito mais ligadas à produtividade e não em estar fisicamente em um posto de trabalho e apesar de que algumas profissões são impossíveis de serem realizadas à distância a pandemia quebrou diversos mitos em relação à isto. A migração forçada para o sistema de home-office acabou flexibilizando esta questão do horário e sem sombra de dúvidas as pessoas vespertinas aproveitaram isto e começaram a trabalhar em horários mais alternativos e produtivos para o seu cronotipo.
Ana, conta que com a entrada do Decreto de Sáude Pública a pandemia permitiu esta mudança no modelo de trabalho mas o que ela viu na prática é que os gestores e colaboradores individuais se sentiram bem perdidos no início em relação a como serem produtivos sem estar fisicamente no local de trabalho.
Isto somado à questões de rotina familiar e a velocidade com que tudo aconteceu contribuiu para que muitas pessoas não conseguissem entender como entregar performance nesta realidade, o que inclusive fez com que algumas pessoas tivessem que voltar ao escritório. Por outro lado, uma minoria se adaptou bem e hoje inclusive prefere o trabalho em home-office do que o feito fisicamente.
Cibele comenta que por ser vespertina sempre que trabalhou presencialmente tinha que trabalhar à noite, não por ser workaholic mas por ter melhores ideais e seu trabalho render melhor durante à noite.
Agora em sua posição atual por ser um trabalho 100% home office isto acaba se estendendo mas que usa de uma maior flexibilidade em relação à manhã, o que antes não era possível. Entretanto em função das diferenças com a maior parte das pessoas isto acaba gerando um desequilíbrio entre a vida pessoal e profissional.
Ana afirma, que este desequilíbrio é um grande problema de saúde pública e que não é recente. Em outros países existem estudos amplos sobre os índices de burnout, depressão e ansiedade e aqui no Brasil faltam dados pois existe um desconhecimento, um preconceito e os testes para se identificar estas questões são feitos apenas por um psicólogo ou dependendo do caso um psiquiatra, seja pelo SUS ou por um convênio médico, e que estes profissionais estão sendo amplamente demandados nos dias de hoje.
Ela reforça que o tema saúde mental é de responsabilidade da área de Recursos Humanos dentro das empresas mas o que eles podem fazer é orientar os gestores para que façam um bom planejamento de trabalho para evitar sobrecargas.
João conta que hoje em seu trabalho na Atingir + ele que é vespertino consegue ter uma flexibilização do horário mas que durante sua trajetória como CLT sempre foi considerado workaholic por usar mais do período da noite para poder entregar melhor.
Ele afirma que acredita que esta flexibilização de horário é a tendência e que a pandemia acabou trazendo alguns elementos que devem ser aproveitados para realizar mudanças neste sentido e que inclusive os testes de cronotipo deveriam ser utilizados em testes de seleção para se enquadrar as pessoas certas nas posições adequadas.
Ana afirma que no cenário atual a percepção geral é que as pessoas vespertinas tem pior produtividade e que as empresas não estão preparadas ara aceitar uma menor performance na parte da manhã. Muitas vezes o que é dito nos corredores é que a pessoa vespertina está fazendo “corpo mole” para poder ganhar hora extra à noite.
Ela relata que inclusive já fez desligamentos de pessoas extremamente competentes em função disto e que nunca ninguém quis entender realmente o porque das pessoas se comportarem desta forma. Ana acredita que ainda exista uma longa jornada para que as empresas possam se adaptar à estes novos conceitos e que testes de cronotipo em processos de seleção são bem fora da realidade e afirma que nunca viu em sua longa carreira na área alguma empresa que adote esta prática.
Ela comenta que a prática não é divulgada e muito menos praticada e que inclusive a sua adoção poderia até evitar problemas de acidentes de trabalho de pessoas que operam máquinas e que deveriam estar trabalhando em outro turno.
Ela conclui o seu pensamento dizendo que hoje um teste como este poderia até ser considerado discriminatório, tamanha a ignorância das pessoas em relação ao tema e que de nada adiantaria esta prática se a lei trabalhista não mudasse. Neste caso ela comenta que se não acompanhada pela mudança na lei esta ferramenta seria apenas utilizada para discriminar pessoas e não algo que possa agregar à gestão das empresas. Quer saber qual é o seu cronotipo? Acesse https://institutodosono.com/teste-de-cronotipo/